segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Informe da Estadual do SINTE

Jornada exaustiva por melhores salários adoece gravemente os/as professores/as

De acordo com matéria publicada no dia 29/09 pelo Diário Catarinense, “cerca de 20% dos/as profissionais da educação no Brasil dão aula em mais de uma instituição. O cansaço da jornada estendida se reflete no ensino”.
Na verdade, o SINTE/SC vem denunciando há muito tempo a excessiva jornada de trabalho dos/as profissionais em educação de Santa Catarina, que se veem obrigados a ministrarem aulas nos três turnos, em escolas diferentes e geralmente distantes de onde moram. Ao assumirem mais e mais aulas, para conseguirem um salário minimamente razoável, tornaram-se verdadeiros/as Boias Frias, pois o deslocamento de uma escola para outra, nos diferentes períodos, impede que se alimentem de forma adequada, e a grande maioria deles/as sobrevive de lanches ou marmitas, levando também em conta o baixo valor do vale refeição pago pelo governo.
Além disso, a categoria docente é uma das mais expostas e exigidas, dentre as categorias profissionais, sofrendo críticas e cobranças ferrenhas da sociedade. Exige-se deles/as, boa qualificação, qualidade de ensino, atualização de conhecimento, sem que lhes sejam dados subsídios para isso. Na maioria das vezes, estes/as profissionais pagam do próprio bolso sua qualificação, como ocorre em nosso Estado, onde a maioria arcou com as despesas de sua pós-graduação, e não houve o reconhecimento deste esforço, por parte do governo.
Para a psicóloga Ana Maria Rossi, “a frustração profissional acaba se tornando uma rotina, a ponto de deflagrar a síndrome de Burnout, uma condição de estresse e desânimo extrema com o trabalho. Trata-se de uma exaustão mental e física que se inicia com um sentimento de injustiça e falta de reconhecimento”.
Nos últimos 30 anos, o sistema educacional brasileiro vem enfrentando uma crise sem precedentes. Nesse período, as necessidades da indústria e do mundo do trabalho mudaram drasticamente, e, segundo Esteve (1999), “os profissionais da educação tiveram que se adaptar às características evolutivas dos processos de trabalho”. Entretanto, na maioria das vezes, não se observou uma melhoria das condições desse tipo de exercício profissional. Para Lemos (2005, p.5), “o mestre, visto antes como uma figura profissional essencial para a sociedade, é hoje um profissional que luta pela valorização e reconhecimento social do seu trabalho”.
Atualmente, as grandes lutas dos/as professores/as são o reconhecimento e o respeito de sua importância, por parte da sociedade, e que o governo cumpra seu papel oferecendo-lhes condições mais dignas de trabalho. É histórica a luta do SINTE/SC em defesa da dedicação exclusiva, por isso endossamos as palavras de Bernardete Gatti, ao afirmar que “trabalhar em uma só escola com dedicação exclusiva, além de aprofundar o vínculo com a comunidade escolar é bem mais produtivo e salutar”. Assim, os/as professores/as não terão necessidade de se deslocar de uma escola para outra, num enorme desperdício de tempo, que poderia ser utilizado para leitura, preparo de aulas, ou para uma pausa de descanso. Este ir e vir diário, de um lado para outro, contribui muito para sua exaustão física e emocional.
Se, além disso, levarmos em consideração as relações de gênero, os dados do Censo da Educação Básica, de 2007, revelaram que o espaço da educação básica é particularmente feminino. Dentre 1.882.961 docentes, 1.542.925 eram do sexo feminino, e 340.036 do sexo masculino. Isso representa um universo de 82% de mulheres e apenas 18% de homens. Ao juntar os baixos níveis salariais que predominam e as condições em que as mulheres atuam, cumprindo uma jornada superior a 60 horas semanais de trabalho, aliados ao fato de que uma grande maioria delas é arrimo de família, o que acarreta uma tripla jornada de trabalho, é inevitável que ocorra o adoecimento.
Os fatos falam por si, e deixam clara a necessidade do comprometimento, por parte do poder público, na implementação de políticas eficientes, que enfrentem a raiz do problema. É uma discussão que deve ser feita pelos candidatos ao governo do Estado. Não podemos concordar que continuem em pauta propostas que pretendem atingir somente os efeitos, e não as causas, tais como a premiação dos assíduos.
É preciso propor um novo paradigma para a educação. Não podemos continuar com projetos superficiais e cosméticos. Mas, para que isto ocorra realmente, é necessária a implementação de uma política de estado para a educação. É inadmissível que continuemos à mercê de projetos de curta duração, que só servem para rechear discursos de campanha e desperdiçar verbas.

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