Recentemente,
a imprensa catarinense noticiou as diversas irregularidades apontadas pelo
Conselho Estadual de Alimentação Escolar de SC - CEAC, através de um dossiê,
sobre a merenda servida nas escolas do Estado, entretanto, o Secretário
Deschamps questionou o Conselho e afirmou que só ficou sabendo do problema
através da imprensa.
A
Assessoria de Imprensa do SINTE/SC entrou em contato com a Presidente da CEAC
Fátima Fuhro, que afirma que o Secretário sabia sim das irregularidades, já que
denúncias vêm sendo feitas desde 2010. “Fizemos relatórios com documentos em
anexo que comprovam as denúncias, inclusive, muitos deles com a assinatura do
Secretário de Educação. Esses problemas surgiram desde a publicação do edital
de terceirização da merenda escolar em 2009, este que inclusive foi questionado
judicialmente”.
Ela
disse ainda que ontem, 04/06, o Conselho recebeu uma notificação por parte da
SED, dando 48 horas para que o Dossiê seja entregue ao Governo, contudo, Fátima
afirma que não vão se intimidar, que o conselho não é irresponsável e nem
leviano, pois possuem comprovação das denúncias.
O
fato de irem a imprensa foi por conta do descaso de mais de três anos apontando
problemas e sem nenhuma solução. Quem sabe agora que os pais estão sabendo o
que está sendo servido na merenda e os riscos que estes alimentos podem causar
à saúde de seus filhos/as, o governo tome alguma medida antes que algo pior
aconteça.
É
de conhecimento público que existe uma norma do governo proibindo a venda de
produtos industrializados dentro das escolas em função do malefício que os
mesmos acarretam à saúde das crianças e adolescentes, dentre elas a obesidade
infantil que pode levar a hipertensão e a diabetes, fato que muitos
pesquisadores da área médica já constataram e que já é considerado um problema
de saúde pública. Mesmo assim, as cantinas ignoram a proibição e continuam com
estas práticas dentro das escolas públicas com o consentimento das direções das
escolas.
Segundo
o dossiê, entre os problemas identificados estão:
1)
Não
cumprimento da aplicação de no mínimo 30% da verba do programa na aquisição de
gêneros alimentícios da agricultura familiar local;
2)
Falta
de estrutura para a adequada atuação do CEAE;
3)
Má
qualidade dos alimentos detectada durante as visitas nas escolas;
4)
Grande
quantidade de produtos industrializados, por exemplo, batata em flocos;
5)
Hortifrutigranjeiros
em estado de decomposição;
6)
Precarização
do trabalho do Nutricionista que de acordo com a lei nº 11.947/2009, é o
Responsável Técnico pelo programa;
7)
Falta
de estrutura adequada nas escolas;
8)
Inexistência
de projeto de inserção da educação nutricional no currículo escolar;
9)
Descumprimento
do Edital por parte das empresas terceirizadas, tais como: descumprimento do
cardápio, armazenamento dos alimentos de forma inadequada, redução das
quantidades/porções dos alimentos, falta de condições higiênicas sanitárias;
10)
Falta
de controle sobre o número de refeições servidas acarretando cobrança indevida;
11)
Desvio
de função dos Nutricionistas;
12)
Precarização
da alimentação oferecida nas escolas que ainda encontram-se em autogestão;
Com
relação ao primeiro item, Fátima destaca que Governo e terceirizados não
cumprem a Lei 11.947/09 do Programa
Nacional de Alimentação Escolar, que determina que as administrações sejam
obrigadas a comprar no mínimo 30% dos produtos da agricultura familiar para a
alimentação escolar. O que ajudaria essas famílias e traria uma nutrição
saudável aos alunos.
Este programa é
administrado pelo Estado, mas mesmo assim, em SC, apenas 0,54% dos alimentos
são oriundos da agricultura familiar, beneficiando 38 famílias. Se a Lei fosse
cumprida, os 30% das compras dos alimentos beneficiariam 2100 famílias de
agricultores, e pelos dados apontados pelo CEAC, podemos dizer que a situação
da merenda escolar em SC está precarizada, como acontece com vários setores da
administração pública.
Diante disto, o
SINTE/SC afirma o apoio ao CEAC, e mantém a grande preocupação com os rumos tomados
pelo Governo com relação à saúde e a educação do Estado de Santa Catarina. Para
nós é imprescindível, que nossos/as nossos alunos/as recebam uma alimentação
balanceada e de qualidade que atenda as necessidades de seu desenvolvimento. Entendemos
também que a merenda escolar além de sua função nutricional, agrega um
componente essencial do dia a dia das escolas que é a questão pedagógica, e ensinar
bons hábitos alimentares é uma tarefa não só dos pais como também dos/as
professores/as.
O SINTE reafirma
também a sua posição pela garantia de estabilidade no emprego, não a
terceirização e por concurso público para a contratação de serventes e
merendeiras, pois para que aja um bom relacionamento entre alunos/as,
professores/as e merendeiras é fundamental que as pessoas que trabalham com a
alimentação de nossos/as alunos/as façam parte do corpo de trabalhadores/as
efetivos dentro das unidades escolares.
Nesta
quinta-feira, dia 06/06, o CEAC deve entregar o dossiê à Secretaria de Educação
e na sexta, dia 07/06, serão entregues cópias ao FNDE – Fundo Nacional de
Desenvolvimento da Educação, Ministério Público e Tribunal de Contas da União,
já que o dinheiro que está sendo gasto pelo Estado com a merenda terceirizada estaria
três vezes acima da média nacional, com um serviço de baixa a qualidade.
E nos dias 06 e 07
de junho, acontecerá o encontro dos CAES, que são os Conselhos Municipais da
Alimentação Escolar, na UFSC. De acordo com Fátima, o evento deve reunir mais
de 800 participantes, já que após as denúncias o número de inscrições aumentou.
Este encontro promete trazer a tona muitos debates e questionamentos acerca da
merenda escolar por todo o Estado de SC.
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