Segundo
as metas apresentadas pelo Secretário de Educação, Eduardo
Dechamps, a preocupação com as necessidades do mercado é uma das
prioridades do governo do Estado, ao expor os objetivos para a
educação 2015 (DC 12/12/2014). A preocupação com o alto índice
de reprovação, que saltou de 10%, em 2013, para 30% em 2014, de
acordo com o secretário, se deve ao projeto de aceleração
implantado para corrigir as distorções entre idade e série, nos
últimos anos, do Ensino Fundamental.
Em
nossa opinião, a reflexão que precisamos fazer a respeito do
assunto é sobre o modelo adotado, que não leva em consideração o
ritmo de aprendizagem, que difere de pessoa para pessoa, deixando
para corrigir as distorções ,no final do Ensino Fundamental, ao
invés de corrigi-las durante o processo de aprendizagem, sem nenhuma
preocupação com a educação integral do/a educando/a. A educação
não pode ser concebida apenas para atender a demanda do mercado,
pois educar é um ato de convivência social, e tomada de consciência
política. A educação escolar, além de ensinar o conhecimento
científico, deve assumir a incumbência de preparar as pessoas para
o exercício da cidadania. A cidadania é entendida como o acesso aos
bens materiais e culturais produzidos pela sociedade, e ainda
significa o exercício pleno dos direitos e deveres previstos pela
Constituição.
A
formação política e cidadã tem na escola um espaço privilegiado,
que deve propor caminhos para reflexão e tomada de consciência que
levem a mudança de atitude diante dos desafios que a vida irá
colocar no caminho de cada um/a. Isto certamente levará as pessoas a
entenderem seus direitos como também seus deveres e certamente, se
refletirá na qualidade de vida de cada um, fortalecendo a
democracia, pilar que deve sustentara sociedade, pela qualidade de
seus indivíduos, sem levar em conta sua raça, religião, ideologia
ou patrimônio.
A
educação não pode preparar apenas para o mercado, pois estará
fadada ao fracasso, pois este é um erro histórico que já
cometemos, na década de 60, com a reforma de ensino, proposta pelo
programa MEC/USAID. O “documento básico foi organizado em torno da
ideia do desenvolvimento econômico, na linha dos novos estudos de
economia da educação, que consideravam os investimentos no ensino
como destinados a assegurar o aumento da produtividade e da renda. Em
virtude disso, a própria escola primária deveria capacitar para a
realização de determinada atividade prática; o ensino médio teria
como objetivo a preparação dos profissionais necessários ao
desenvolvimento econômico e social do país; e ao ensino superior
eram atribuídas as funções de formar a mão-de-obra especializada
requerida pelas empresas e preparar os quadros dirigentes do país”
(Souza, 1981, p. 67-68).
As
consequências desse acordo ainda estão sendo sentidas na educação,
pois, apesar da aprovação da nova LDB, as mudanças não mudaram
muito. A realidade e a prática pedagógica das escolas se vêem
reféns de projetos duvidosos, implantados pelos governos estaduais e
municipais, mantendo altos os índices de aprovação, sem levar em
conta a necessidade de atendimento diferenciado aos/as alunos/as que
apresentavam dificuldade de aprendizagem, sem esperar para corrigir
as distorções, quando elas já eram grandes demais para serem
feitas num curto espaço de tempo. Universalizamos o acesso, mas não
primamos pela qualidade.
Lembramos,
também, o papel das Universidades, as responsáveis pelos cursos de
formação de quem atua na Educação Básica, que é bastante
ineficiente, pois a maioria delas não consegue dar uma formação
adequada a estes/as profissionais, e deixam muito a desejar, enquanto
entidade. Esta é uma realidade que só deverá mudar, com amplo
pacto entre sociedade e governo, abrindo o leque de discussão com
todos os segmentos que dela fazem parte, para que se pense numa
educação, não só para o mercado, também para a cidadania.
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