quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Ensino Médio tem que educar também para a cidadania

Segundo as metas apresentadas pelo Secretário de Educação, Eduardo Dechamps, a preocupação com as necessidades do mercado é uma das prioridades do governo do Estado, ao expor os objetivos para a educação 2015 (DC 12/12/2014). A preocupação com o alto índice de reprovação, que saltou de 10%, em 2013, para 30% em 2014, de acordo com o secretário, se deve ao projeto de aceleração implantado para corrigir as distorções entre idade e série, nos últimos anos, do Ensino Fundamental.
Em nossa opinião, a reflexão que precisamos fazer a respeito do assunto é sobre o modelo adotado, que não leva em consideração o ritmo de aprendizagem, que difere de pessoa para pessoa, deixando para corrigir as distorções ,no final do Ensino Fundamental, ao invés de corrigi-las durante o processo de aprendizagem, sem nenhuma preocupação com a educação integral do/a educando/a. A educação não pode ser concebida apenas para atender a demanda do mercado, pois educar é um ato de convivência social, e tomada de consciência política. A educação escolar, além de ensinar o conhecimento científico, deve assumir a incumbência de preparar as pessoas para o exercício da cidadania. A cidadania é entendida como o acesso aos bens materiais e culturais produzidos pela sociedade, e ainda significa o exercício pleno dos direitos e deveres previstos pela Constituição.
A formação política e cidadã tem na escola um espaço privilegiado, que deve propor caminhos para reflexão e tomada de consciência que levem a mudança de atitude diante dos desafios que a vida irá colocar no caminho de cada um/a. Isto certamente levará as pessoas a entenderem seus direitos como também seus deveres e certamente, se refletirá na qualidade de vida de cada um, fortalecendo a democracia, pilar que deve sustentara sociedade, pela qualidade de seus indivíduos, sem levar em conta sua raça, religião, ideologia ou patrimônio.
A educação não pode preparar apenas para o mercado, pois estará fadada ao fracasso, pois este é um erro histórico que já cometemos, na década de 60, com a reforma de ensino, proposta pelo programa MEC/USAID. O “documento básico foi organizado em torno da ideia do desenvolvimento econômico, na linha dos novos estudos de economia da educação, que consideravam os investimentos no ensino como destinados a assegurar o aumento da produtividade e da renda. Em virtude disso, a própria escola primária deveria capacitar para a realização de determinada atividade prática; o ensino médio teria como objetivo a preparação dos profissionais necessários ao desenvolvimento econômico e social do país; e ao ensino superior eram atribuídas as funções de formar a mão-de-obra especializada requerida pelas empresas e preparar os quadros dirigentes do país” (Souza, 1981, p. 67-68).
As consequências desse acordo ainda estão sendo sentidas na educação, pois, apesar da aprovação da nova LDB, as mudanças não mudaram muito. A realidade e a prática pedagógica das escolas se vêem reféns de projetos duvidosos, implantados pelos governos estaduais e municipais, mantendo altos os índices de aprovação, sem levar em conta a necessidade de atendimento diferenciado aos/as alunos/as que apresentavam dificuldade de aprendizagem, sem esperar para corrigir as distorções, quando elas já eram grandes demais para serem feitas num curto espaço de tempo. Universalizamos o acesso, mas não primamos pela qualidade.
Lembramos, também, o papel das Universidades, as responsáveis pelos cursos de formação de quem atua na Educação Básica, que é bastante ineficiente, pois a maioria delas não consegue dar uma formação adequada a estes/as profissionais, e deixam muito a desejar, enquanto entidade. Esta é uma realidade que só deverá mudar, com amplo pacto entre sociedade e governo, abrindo o leque de discussão com todos os segmentos que dela fazem parte, para que se pense numa educação, não só para o mercado, também para a cidadania.

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