O dia de ontem foi marcado por inúmeras notícias e manifestações na internet, principalmente através das redes sociais, sobre a terrível agressão física sofrida pela Professora de Língua Portuguesa Marcia de Lourdes Friggi, 51 anos, que atua há 12 anos no magistério. Docente da rede estadual de ensino de Santa Catarina e contratada em caráter temporário (ACT) no município de Indaial, no Vale do Itajaí, para trabalhar numa unidade de Ensino de Jovens e Adultos (EJA).
Com o rosto ensanguentado Marcia relata que sente-se dilacerada, neste caso, não somente pela dor física, mas na alma e no coração. Hoje é cada vez mais comum que nossos educadores sofram todo tipo de agressões e assédio moral dentro das unidades escolas. Ora por alunos, pais e até mesmo os gestores dos seus locais de trabalho.
Ao dizer que o magistério brasileiro está abandonado pela mídia, a sociedade e o governo e que por isso “Todos ajudaram a deixar meu olho roxo”, ela mostra a realidade vivida pelos trabalhadores em educação. A precarização da profissão de professor.
Em Santa Catarina atualmente 52% da rede Estadual é composta por trabalhadores temporários, profissionais transformados em horistas, que se obrigam a dar aulas em várias escolas para terem uma renda mínima para seu sustento, deixando de lado o vínculo político-pedagógico com a comunidade escolar, com as famílias dos estudantes.
Ao ser um servidor efetivo o educador poderia estar sempre presente nesta mesma unidade, convivendo a realidade local, suas especificidades e principalmente seus problemas sociais. Pois a educação não serve apenas para decorar livros didáticos, mas para transformar vidas através do ensino e de um debate livre, democrático e sem preconceitos. Na contramão deste quesito básico que consta da LDB, Lei de Diretrizes e Bases, o Governo de SC abre concurso público para contratação de pouco mais de 500 professores.
Não bastasse todo sofrimento de Márcia, a professora agora está sendo alvo da violência moral dos defensores do deputado Jair Bolsonaro, que estão hostilizando a profissional e debochando das agressões pelo fato de a professora ser de esquerda e ter compartilhado material relativo à ovada que o deputado levou na semana passada. Comparando uma ação política e simbólica de uma ovada a um político, ao uma grave agressão física contra um ser humano, seja ele de qualquer ideologia política.
O oportunismo do ódio vem se alastrando a passos largos nas redes, cada frase mencionada por um militante da esquerda é rapidamente rebatida com ofensas pessoais, palavrões e juízos de caráter, mostrando o quanto a situação do Brasil está preocupante, pois vamos caminhando em direção ao fundamentalismo e a intolerância sem precedentes.
Em entrevista a BBC Brasil, Marcia disse: "Estou estarrecida. Certas pessoas estão escrevendo que eu merecia isso, por meu posicionamento político de esquerda, de feminista. Já atingiram o meu olho, mas não vão me calar. Na sala de aula é uma coisa, mas nas redes sociais tenho todo o direito de me expressar", afirmou a professora, que se desdobra em dois empregos, nas redes municipal e estadual, para sustentar a família. "Exerço uma das profissões mais dignas do mundo, com um salário miserável".
O SINTE SC, entidade que representa os trabalhadores em educação do Estado de SC, declara todo apoio a Professora Marcia Friggi, nossa filiada, militante e lutadora, reafirmamos sua palavra de que não vão nos calar, que vamos cobrar desse Governo uma política de segurança permanente aos seus trabalhadores e estudantes, pois até agora o que este Estado fez foi retirar os vigilantes das unidades escolares, deixando todos a mercê da violência.
Vamos lutar também com você professora contra todo ódio, manifestações de intolerância, machismo e desrespeito a sua dor, como uma mulher brasileira que dedica sua vida a educação.
Saiba que esta entidade está a sua disposição para juntos fazermos o enfrentamento político e jurídico, se necessário, contra os ataques verbais, físicos ou morais pelos quais está passando, nessa vergonhosa onda intolerante pela qual vem passando nosso país.
#SOMOSTODOSMARCIA
Por
Graciela Caino Fell
Jornalista
Assessora de Imprensa SINTE/SC