quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Nota do SINTE/SC.

  Em tempos de grande difusão de informação, através de compartilhamentos em redes sociais, celulares, tablets, computadores de alta tecnologia, imagens digitais e em tempo real, nem mesmo as salas de aula estão a salvo de estar entre os assuntos mais comentados da internet, e o que “cai na rede é peixe para a imprensa”, que aproveita a pauta para repercutir em seus veículos de comunicação. Essa democratização da comunicação/informação tem muitos pontos positivos, contudo, não se pode negar que em alguns casos extrapola os níveis aceitáveis da sensatez, do respeito ao outro e da privacidade alheia.
  Foi o que aconteceu na superexposição causada por um vídeo gravado e divulgado, sem autorização, por alunos que decidiram constranger e humilhar uma professora, que após ter sido provocada e afrontada por uma aluna na sala de aula, uma atitude recorrente no dia a dia dos/as profissionais da educação, perdeu o controle, e num momento de desabafo exagerou nas palavras e mandou a aluna sair da sala.
  O que está acontecendo nas escolas é um verdadeiro Big Brother, onde os/as alunos/as colocam os/as professores em situação de constrangimento e assédio, editam apenas as imagens que lhes interessam para todo mundo “dar uma espiadinha” e tirar conclusões distorcidas da realidade colocando-se na cômoda posição de vítimas injustiçadas.
  O que nos causa espanto é o fato de que é de conhecimento público que existe Lei Federal, Estadual e Municipal que proíbe o uso de celulares dentro da sala aula, inclusive, o uso de imagens sem o conhecimento das pessoas envolvidas é um ato ilegal. No entanto, os/as alunos/as simplesmente ignoram as regras.
  O SINTE/SC lamenta profundamente o que vem ocorrendo nas escolas e a muito tempo vem alertando a respeito dos intensos níveis de estresse a que são submetidos os professores no Estado de Santa Catarina, no entanto tanto os Governos estaduais, quanto os municipais não pensam em políticas educacionais que levem em conta a situação desses/as profissionais.
  A carga horária excessiva em função dos baixos salários, assédio moral, condições insalubres no ambiente de trabalho devido ao estado precário das escolas, são alguns dos desafios enfrentados por estes profissionais em seu dia a dia, e que levam a depressão, síndrome de Burnout, problemas de voz, lesões por esforços repetitivos (LER), e aos constantes afastamentos dos/as profissionais das salas de aula, que só o fazem quando a situação chegou a um limite critico e insuportável.
  Segundo a pesquisadora Adriane Medeiros da UFMG, os distúrbios vocais são uma das maiores causas de faltas ao trabalho entre os educadores. Cerca de 30% dos profissionais já teve alguma ausência relacionada a esse tipo de problema. No entanto, o tratamento só começa quando a doença atinge grau mais avançado. Os motivos para essa demora, geralmente, têm natureza social. “A disfonia causa vários inconvenientes que podem interferir no relacionamento dos professores com os/as alunos/as, seus colegas e na busca por tratamento”.
  No caso da Professora Ligia Nascimento, da Escola Maria Luiza de Mello em São José, percebe-se logo de início a má intenção dos alunos que fizeram o vídeo. Segundo relatos de outros alunos, que protestaram na escola a favor da professora, divulgados em recente publicação do Diário Catarinense, a professora foi levada a falar palavrões em sala e que teria caído em uma armadilha: — Todos na escola sabem que ela costuma dizer o que pensa, que é pavio curto, mas no fundo é muito gente boa, é dedicada, exigente e até brincalhona em sala. A gente entende quando ela esta brincando e não nos xingando, mas eles (os alunos da turma 201) usaram isso contra ela e editaram o vídeo onde mostrava só a parte ruim, não a parte que a aluna desrespeita — afirma um dos alunos.
  Os adolescentes também contam como a professora entrou em sala de aula após a divulgação do vídeo. Segundo eles, ela quase não falou, não brincou como de costume e estava cabisbaixa. — Pela primeira vez ela chegou atrasada, não estava animada, não conversava muito com a gente, estava com os olhos cheios de lágrima. Não deviam ter feito isso com ela, foi uma armadilha — reforçam. (Diário Catarinense)
  Quando alunos xingam, humilham, expõe ou constrangem algum de seus/as colegas a palavra do momento “é bullyin”, que quer dizer: termo utilizado para descrever atos de violência física ou psicológica, intencionais e repetidos, praticados por um indivíduo (do inglês bully, tiranete ou valentão) ou grupo de indivíduos causando dor e angústia, sendo executadas dentro de uma relação desigual de poder. Diante do significado da palavra, podemos afirmar que a Professora Ligia sofreu bullyin, mesmo assim foi punida com o afastamento da sala de aula.
  Alertarmos mais uma vez que este não é um caso isolado. Muitos professores são agredidos verbalmente e fisicamente todos os dias nas escolas e a maioria dos casos sequer são relatados, são sim silenciados, pelas direções das escolas e pelos próprios professores, por medo de represálias ou de alguma violência ainda maior.
  A Constituição Federal estabelece em seu Art. 205 que: “A educação, direito de todos e dever do estado e da família, sera promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”. Fica claro que segundo a Constituiçao que a responsabilidade primeira com a educação é do Estado e da família. Ao professor/a compete colaborar com a educação dos/as jovens ministrando-lhes o conhecimento necessário ao seu pleno desenvolvimento e inserção na sociedade.
  No entanto o que observamos são pais coniventes com as atitudes desrespeitosas de seus/as filhos/as, que não se dão ao trabalho de ouvirem o outro lado, e não levam em consideração o ser humano que é o/a profissional que lida com a educação em seu dia a dia. Esta atitude certamente não contribui para a formação de cidadãos/ãs sérios/as, responsáveis e concientes de seus direitos e deveres.

Um comentário:

  1. Sergio Couto da Rocha3 de novembro de 2012 às 10:51

    Elogio profundamente quem teceu este comentário. Defendo plenamente esta professora,pois tenho a convicção de que se ela chegou neste ponto foi porque não estava sendo respeitada no seu ambiente de trabalho, pois a lei diz bem claro que qualquer profissional não pode ser perturbado no seu ambiente de trabalho. Com certeza esta professora não estava mais suportando a situação.

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