Jornada
exaustiva por melhores salários adoece gravemente os/as professores/as
De acordo com matéria publicada
no dia 29/09 pelo Diário Catarinense, “cerca de 20% dos/as
profissionais da educação no Brasil dão aula em mais de uma
instituição. O cansaço da jornada estendida se reflete no ensino”.
Na verdade, o SINTE/SC vem
denunciando há muito tempo a excessiva jornada de trabalho dos/as
profissionais em educação de Santa Catarina, que se veem obrigados
a ministrarem aulas nos três turnos, em escolas diferentes e
geralmente distantes de onde moram. Ao assumirem mais e mais aulas,
para conseguirem um salário minimamente razoável, tornaram-se
verdadeiros/as Boias Frias, pois o deslocamento de uma escola para
outra, nos diferentes períodos, impede que se alimentem de forma
adequada, e a grande maioria deles/as sobrevive de lanches ou
marmitas, levando também em conta o baixo valor do vale refeição
pago pelo governo.
Além disso, a categoria docente
é uma das mais expostas e exigidas, dentre as categorias
profissionais, sofrendo críticas e cobranças ferrenhas da
sociedade. Exige-se deles/as, boa qualificação, qualidade de
ensino, atualização de conhecimento, sem que lhes sejam dados
subsídios para isso. Na maioria das vezes, estes/as profissionais
pagam do próprio bolso sua qualificação, como ocorre em nosso
Estado, onde a maioria arcou com as despesas de sua pós-graduação,
e não houve o reconhecimento deste esforço, por parte do governo.
Para a psicóloga Ana Maria
Rossi, “a frustração profissional acaba se tornando uma rotina, a
ponto de deflagrar a síndrome de Burnout, uma condição de estresse
e desânimo extrema com o trabalho. Trata-se de uma exaustão mental
e física que se inicia com um sentimento de injustiça e falta de
reconhecimento”.
Nos últimos 30 anos, o sistema
educacional brasileiro vem enfrentando uma crise sem precedentes.
Nesse período, as necessidades da indústria e do mundo do trabalho
mudaram drasticamente, e, segundo Esteve (1999), “os profissionais
da educação tiveram que se adaptar às características evolutivas
dos processos de trabalho”. Entretanto, na maioria das vezes, não
se observou uma melhoria das condições desse tipo de exercício
profissional. Para Lemos (2005, p.5), “o mestre, visto antes como
uma figura profissional essencial para a sociedade, é hoje um
profissional que luta pela valorização e reconhecimento social do
seu trabalho”.
Atualmente, as grandes lutas
dos/as professores/as são o reconhecimento e o respeito de sua
importância, por parte da sociedade, e que o governo cumpra seu
papel oferecendo-lhes condições mais dignas de trabalho. É
histórica a luta do SINTE/SC em defesa da dedicação exclusiva, por
isso endossamos as palavras de Bernardete Gatti, ao afirmar que
“trabalhar em uma só escola com dedicação exclusiva, além de
aprofundar o vínculo com a comunidade escolar é bem mais produtivo
e salutar”. Assim, os/as professores/as não terão necessidade de
se deslocar de uma escola para outra, num enorme desperdício de
tempo, que poderia ser utilizado para leitura, preparo de aulas, ou
para uma pausa de descanso. Este ir e vir diário, de um lado para
outro, contribui muito para sua exaustão física e emocional.
Se, além disso, levarmos em
consideração as relações de gênero, os dados do Censo da
Educação Básica, de 2007, revelaram que o espaço da educação
básica é particularmente feminino. Dentre 1.882.961 docentes,
1.542.925 eram do sexo feminino, e 340.036 do sexo masculino. Isso
representa um universo de 82% de mulheres e apenas 18% de homens. Ao
juntar os baixos níveis salariais que predominam e as condições em
que as mulheres atuam, cumprindo uma jornada superior a 60 horas
semanais de trabalho, aliados ao fato de que uma grande maioria delas
é arrimo de família, o que acarreta uma tripla jornada de trabalho,
é inevitável que ocorra o adoecimento.
Os fatos falam por si, e deixam
clara a necessidade do comprometimento, por parte do poder público,
na implementação de políticas eficientes, que enfrentem a raiz do
problema. É uma discussão que deve ser feita pelos candidatos ao
governo do Estado. Não podemos concordar que continuem em pauta
propostas que pretendem atingir somente os efeitos, e não as causas,
tais como a premiação dos assíduos.
É preciso propor um novo
paradigma para a educação. Não podemos continuar com projetos
superficiais e cosméticos. Mas, para que isto ocorra realmente, é
necessária a implementação de uma política de estado para a
educação. É inadmissível que continuemos à mercê de projetos de
curta duração, que só servem para rechear discursos de campanha e
desperdiçar verbas.
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