O país atravessa a mais grave recessão da história, com quase três anos de queda
da produção industrial, diminuição da renda e elevação do desemprego. O lucro líquido
dos 4 maiores bancos do Brasil cresceu 10,4% no 3º trimestre deste ano em relação ao
mesmo período de 2016. Segundo estudo da empresa Economatica, a soma dos lucros
do Itaú, Bradesco, Banco do Brasil e Santander no período entre julho e setembro,
alcançou R$ 13,6 bilhões ante R$ 12,3 bilhões no mesmo período do ano passado. O
maior lucro foi o do Itaú Unibanco, que chegou a R$ 6,077 bilhões. Dos três bancos,
dois são privados, um inclusive, estrangeiro.
Os bancos privados no Brasil quase não emprestam, ou seja, não cumprem a
função que deveria ser a razão de sua existência, a intermediação e disponibilização do
crédito. Em Santa Catarina, por exemplo, os bancos privados respondem por apenas
10% do crédito disponível, não intermediam os programas sociais do governo e
empregam apenas 30% dos bancários. Ademais, pagam salários que equivalem a 86%
dos salários dos trabalhadores dos bancos públicos, segundo a RAIS 2016. Esse é o
quadro em todo o país: os bancos privados praticamente não disponibilizam crédito,
exploram seus trabalhadores acima da média do setor, não desempenham função social
nenhum e faturam lucros exorbitantes, totalmente descolados da situação econômica
geral do País. O que mostra que algo está profundamente errado.
O sistema financeiro é um dos principais grupos de interesse do golpe de Estado
que está em curso no País.
O golpe foi desferido por interesses econômicos muito
concretos. Por exemplo, recentemente foi concedido ao banco Itaú (que teve mais de R$
6 bilhões de lucros líquidos no terceiro trimestre deste ano, como vimos), pelo Carf
(Conselho Administrativo de Recursos Fiscais), ligado à Receita Federal, o perdão de
impostos que totalizavam R$ 25 bilhões. A doação é feita ao mesmo tempo em que,
usando como pretextos a crise e a falta de dinheiro, o governo empreende o maior
ataque aos direitos sociais e trabalhistas registrados na história do Brasil.
Só para efeito de comparação do que representa o valor doado, a Lava Jato, que
os ingênuos dizem que investiga o maior caso de corrupção da história do pais, apurou
desvios totais da ordem de R$ 6,2 bilhões. Valores que foram superestimados visando
obter o apoio da opinião pública para a Operação, verdadeiro Cavalo de Troia e
2
elemento chave para a operacionalização do golpe contra a democracia em 2016.
Os
recursos doados pelo Carf ao Itaú, que vão beneficiar meia dúzia de super ricos,
equivale praticamente ao orçamento do Bolsa Família para este ano, Programa que
retira do flagelo da fome quase 50 milhões de compatriotas. Isso num ano em que o
governo terá o maior déficit fiscal da história, pretexto a partir do qual o governo
ilegítimo está vendendo empresas públicas estratégicas, à preço de banana.
A chamada Emenda da Morte (EC 95), que limitou os gastos da despesa
primária federal a partir de 2017 à inflação, foi claramente uma inspiração direta do
capital financeiro. A Emenda atinge diretamente a soberania nacional. O congelamento
do gasto público, que valerá por 20 anos, tem o objetivo expresso de pagar ainda mais
juros da dívida pública, o que é de uma subserviência absoluta ao capital financeiro. As
despesas públicas irão decrescer a sua participação relativa no PIB, toda vez que houver
crescimento econômico, o que só poderia vir mesmo através de um golpe contra o povo.
A proposta não aplica aos juros a mesma lógica de corrigi-los pela inflação, o que revela
que o objetivo é mesmo transferir recursos da sociedade para o setor financeiro, já que
os juros praticados no Brasil são os mais elevados do mundo.
Noticia a imprensa que o governo golpista está para enviar ao Congresso a nova
lei de resolução bancária, que tornará legal a injeção de dinheiro público, via Tesouro
Nacional para salvar bancos com problemas financeiros. Atualmente isso é proibido
pela Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), que veio numa situação de grave crise fiscal
na década de 1990, para, supostamente garantir por parte dos governantes maior
responsabilidade no tratamento dos gastos públicos. Um detalhe “quase sem
importância” é que o atual presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, foi economistachefe
do banco Itaú e tem laços estreitos com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e
Banco Mundial. Há fortes indicações que a nomeação de Goldfajn, após o golpe em
2016, foi aprovada pelo FMI, pelo Tesouro norte-americano e pelos representantes do
sistema financeiro de Wall Street. Ou seja, são as raposas mais ardilosas, administrando
o galinheiro. O pior é que boa parte das “galinhas” ainda têm dúvidas, ou ignora
completamente, que o Brasil sofreu o pior golpe de Estado de sua história.
José Álvaro de Lima Cardoso
Nenhum comentário:
Postar um comentário