20/05/2015
(site: desacato.info)
Por
Raul Fitipaldi, para Desacato.info.
Ontem,
terça-feira, 19 de maio, se passaram 58 dias do início da greve dos professores
de Santa Catarina. A mobilização inclui acampamentos na SED na Assembleia
Legislativa de Santa Catarina. A exposição do governo cresce e não se avança no
sentido de uma solução definitiva.
O
Portal Desacato entrevistou o professor Luiz Carlos Vieira, Coordenador
Estadual do SINTE. Vieira afirma que o Governo Estadual, “que é um governo de
cunho liberal, tem uma visão empresarial da educação,” e que “a grande mídia
trabalha para que a população se coloque contrária às reivindicações dos
professores”.
–
Podemos catalogar como histórica esta greve dos professores de Santa Catarina?
Luiz
Carlos Vieira – Sim, todas as greves são históricas e esta greve é histórica,
porque nós já estamos há 58 dias e ainda não temos uma resposta concreta do
Governo de Santa Catarina. É histórica também pelas ações que esta greve
proporcionou, como por exemplo, os acampamentos da SED e da ALESC. Mesmo sem
ter nenhuma negociação, está expondo o Governo do Estado à sociedade
catarinense.
-
O governo estadual tem uma visão empresarial da educação que passa por cima dos
fundamentos essenciais da educação pública, gratuita e de qualidade?
L.C.V.
– O Governo Estadual, que é um governo de cunho liberal, tem uma visão
empresarial da educação, porque discute a educação como despesa e não como
investimento, tendo em vista que todos os anos as contas do Governo do Estado,
no que se refere investimento da educação, tem deixado a desejar. O Governo
nunca investe aquilo que normalmente tem por obrigação na educação. Quando ele
quer trabalhar na educação visando o professor ele coloca a meritocracia: a
quantidade que o professor deve aprovar.
Coloca a assiduidade, que a progressão tem que ser pelo mérito do
trabalhador e não coloca em xeque a estrutura, que é um dever dele. É uma visão
empresarial. O Governo pensa que os problemas da educação se resolverão apenas
com um projeto de gestão e não com um planejamento de longo prazo, onde todos
os envolvidos possam sugerir alternativas para os problemas.
-
A ameaça de contratação de ACTS coloca em perigo a qualidade do ensino e os
direitos de estabilidade básico dos trabalhadores concursados?
L.C.V.
– A ameaça da contratação dos ACTs coloca em perigo a qualidade do ensino
quando estes não têm qualificação e são contratados sem um processo seletivo
que vise as questões pedagógicas. Os ACTs são contratados com um salário menor
do que os concursados, e por isso, corre-se o risco de ter um profissional com
uma formação que não seja adequada.
“Se
já tem greve, não existe vitória absoluta para ninguém.”
-
Quem é o principal prejudicado do processo de greve: os estudantes, os
professores, o governo estadual, a educação em geral?
L.C.V.
– Todos são prejudicados. Os estudantes, por sua vez, são prejudicados no
sentido de que eles ficam sem os conteúdos, e quando esses conteúdos são
aplicados na reposição, muitas vezes é de uma forma aligeirada, e sem acúmulo.
Já os professores são prejudicados porque são descontados seus dias e quando
tem que fazer a reposição, há um acúmulo de trabalho também. O Governo do
Estado também é prejudicado porque ele tem a problemática na relação de
trabalho e também não só na questão financeira, mas no desgaste político, assim
também como os trabalhadores. Quando há um processo de greve, há um prejuízo
para todos. A melhor saída é o governo atender todas as reivindicações da
categoria sem ter a necessidade da greve. Se já tem greve, não existe vitória absoluta
para ninguém.
-
A categoria sente que esta greve conta com o apoio da população, especialmente
dos pais dos alunos?
L.C.V.
– Em parte a categoria sente o apoio da população, especialmente dos pais e dos
alunos, mas a grande mídia trabalha para que a população se coloque contrária
às reivindicações dos professores, não
entendem a greve como um fator de negociação , um fator de melhoria na
qualidade da educação e querem colocar a comunidade, os pais e os alunos contra
os trabalhadores. A população que vive a educação, que acompanha seus filhos
nas escolas, acompanha a situação da educação no Estado, ela sim apoia as
reivindicações dos professores, que não é apenas corporativista da categoria e
sim para uma educação de qualidade de modo geral.
-
É coerente, no ano em que o Governo Federal lançou o slogan “Pátria Educadora”
que existam greves de professores tão marcantes, como as do Paraná e esta de
Santa Catarina?
L.C.V.
– Não é coerente, pois o slogan “Pátria Educadora” parte do Governo Federal, e
do Governo Federal é que vem a maioria das verbas para todos os programas e
projetos da educação, sejam elas dos estados ou dos municípios. As greves
estaduais e municipais que estão ocorrendo no Brasil, todas têm pautas
específicas, ou são por demandas reprimidas do passado que os governos
estaduais e municipais não responderam, ou são pautas que surgiram neste
momento que os estados e municípios não respeitam os direitos dos
trabalhadores. No Paraná, por exemplo, os trabalhadores estão em greve pela
data base, reajuste de seus vencimentos e também porque o Governo quer alterar
a previdência, ou seja, o Governo quer cobrar a parte que é aumentar o desconto
previdenciária e não dar garantias no seu processo de aposentadoria. Em Santa
Catarina, o Governo do Estado quer retirar os direitos já conquistados há
décadas, por exemplo, a regência de classe, não paga o reajuste do piso
nacional na carreira, que é um reajuste garantido na Lei 11738/2008 e que é
pago apenas no início de carreira, ele achatou a tabela salarial e paga de
forma desigual os trabalhadores em educação.
-
Pode sintetizar qual é a solução que permitirá que a categoria volte às aulas?
L.C.V.
– A solução para que a categoria volte às aulas é o Governo anunciar algumas
garantias sólidas para a categoria, relativas àquilo que ele colocou em sua
proposta, por exemplo, que ele não incorpore a regência de classe no
vencimento, fazer o reenquadramento na tabela salarial, que ele aplique o
reajuste dos 13,01% conforme a Lei 11738, a anistia das faltas de 2012 até
2015, a revisão do Decreto 3593 sobre a questão das faltas injustificadas para
a progressão e que faça a descompactação, ou seja, que valorize os
trabalhadores com maior tempo de serviço e com maior formação, essa é a solução
que permite que a categoria volte às aulas.
Por
fim, o professor Luiz Carlos Vieira afirma a Desacato.info:
“A
greve é um direito legítimo dos trabalhadores. Um direito daqueles que pagam
seus impostos e que financiam todos os serviços públicos, portanto, a
educação. É um direito da sociedade e
principalmente um direito da classe trabalhadora e os trabalhadores precisam
continuar com suas reivindicações, que vão se reverter numa educação de
qualidade e que vai melhorar a luta e a autonomia dos cidadãos e cidadãs.”
(Imagens: Sinte/SC)
Entrevista com Luiz Carlos Vieira, Coordenador Estadual do SINTE. |
Assembleia dos professores. |
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