quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Informe da Estadual do SINTE

3º Encontro Estadual Étnico-Racial – Relatório

O III Encontro Estadual Étnico-Racial do Sindicato dos Trabalhadores em Educação- SINTE, realizado na Escola Sul da CUT, contou com a presença de 50 participantes e equipe de apoio. O tema gerador desenvolvido, “Desafios para a Implementação do Plano Nacional de Educação nas abordagens sobre Relações Raciais de Gênero e Educação dos Povos Indígenas”.
Os objetivos do 3º Encontro:
- Discutir as relações raciais, gênero e povos indígenas, e os desafios para implementação do Plano Nacional de Educação (PNE) nas Redes Educacionais;
- Identificar os obstáculos locais, regionais e nacional, à implementação do Plano Nacional, nos temas de raça, relações de gênero e educação dos povos indígenas;
- Formular estratégias para melhor implementar o PNE, na perspectiva das relações de gênero, raça e educação dos povos indígenas.
O 3º Encontro, em grande medida, ampliou as discussões sobre as relações de gênero e relações étnico-raciais, iniciadas no primeiro e no segundo. O destaque para as relações de gênero foi o caminho encontrado para enfatizar a sua relevância no mundo da educação e estabelecer uma contraposição aos ataques ideológicos que o tema vem sofrendo, na elaboração dos Planos Estaduais e Municipais da Educação, paradoxalmente aos indicadores de violências que as mulheres e, principalmente, as mulheres negras vêm sofrendo no Brasil. Na contramão do debate, Estados e municípios estão suprimindo o tema de gênero dos currículos.
O Encontro não abordou, de forma direta, a educação dos povos indígenas. No entanto, foram discutidas e encaminhadas propostas, ainda no 2º Encontro Estadual. A orientação proposta é abordar e fortalecer o tema nos Encontros Regionais, do mesmo modo, dar ênfase, no IV Encontro Estadual Étnico-Racial.
Objetivos do trabalho em grupo:
Discutir e desenvolver propostas para o fortalecimento das práticas pedagógicas, sobre as políticas de gênero, raça e educação dos povos indígenas.
Discutir o Plano Nacional de Educação, na perspectiva das relações raciais e de gênero, no currículo e nas práticas pedagógicas. Buscar compreender os impactos, nos ambientes da sala de aula e nas Redes Educacionais.
Quais os meios/instrumentos à implementação das Diretrizes Curriculares de Gênero, Raça e Educação Indígena, nas salas de aula e nas Redes de Ensino?
Apontar estratégias para orientar um Plano Básico de Ação, à formação continuada dos trabalhadores em Educação - SINTE/SC -, no âmbito das relações raciais de gênero e educação dos povos indígenas.
Mesa de Abertura
A mesa de abertura foi composta pelos representantes das instituições organizadoras e apoiadoras (CUT Estadual, Anna Júlia Rodrigues; Rubens Luvidon- Secretário de Políticas Sociais e de Gênero do Sinte/SC; Ieda Leal CNTE; Joana Célia dos Passos- UFSC; Luiz Carlos Vieira- Coordenador Estadual do Sinte/SC, e Cíntia Santos- CSP/CONLUTAS)
Todos os participantes, na mesa de abertura, abordaram, de forma sucinta, a relevância do encontro, com destaque para a representante da CNTE, Ieda Leal, que fez uma fala mais longa sobre o papel da Confederação e da Secretaria de Combate ao Racismo. Ela foi enfática, ao afirmar que “os sindicatos dos trabalhadores na educação precisam ter compromisso com o tema das relações raciais, de gênero e a educação dos povos indígenas. Por isso, é tão importante o Encontro que o SINTE promove, e, sobretudo porque já é o terceiro”, destacou, abordando, também, a sua experiência com os temas, no Estado de Goiás, onde reside.
A Mesa Redonda, composta pelas professoras da UFSC/CED Patrícia de Moraes e Joana Célia dos Passos, abordou e discutiu, por duas horas e meia, o tema sobre “As violências no currículo escolar e as intersecções entre raça, gênero e classe”.
A professora Patrícia Moraes abordou o tema sobre as diversas formas de violência na escola, e sua relação direta com a sociedade e todos os sujeitos envolvidos (professores, alunos, gestores, pais, funcionários), nas relações de poder. Foi quando destacou o que significa, para os estudantes, de modo geral, saber o quanto estão implicados com as violências do cotidiano, que permeiam as relações de gênero, raça e classe social.
A professora Joana Célia abordou, com muita ênfase, os aspectos do Plano Nacional, nas relações de gênero, raça e classe, afirmando não ser possível discutir o PNE, sem que sejam compreendidas as disputas de projetos políticos que giram em torno das suas Metas e Ações. Por isso mesmo, diz a professora, “quando falamos de gênero, raça, educação dos povos indígenas, não estamos falando de minorias na educação, mas, sim, de maiorias que querem silenciá-las, seja no currículo, seja nas suas expressões políticas e sociais, buscando violentar suas subjetividades”.
Os debates giraram em torno das questões levantadas pelas professoras e professores, com relatos de experiências feitos pelos participantes, que se inscreveram e falaram. Nas falas, ficaram evidentes as intersecções de gênero, principalmente, as relações raciais nos espaços de poder. Os espaços são coletivos, e, portanto, as relações de poder nos espaços macro e micro interferem, objetivamente e subjetivamente, na vida pública e privada das pessoas, lembrando Michel Foucault, Jorge Larrosa e Maffesoli, citados pela professora Patrícia Moraes, como teóricos que abordaram estas questões, nos seus estudos e pesquisas, autores extremamente relevantes para melhor compreendermos a escalada de violências que assolam o mundo.

Dados sobre a População Indígena no Brasil
A atual população indígena brasileira, segundo dados do Censo Demográfico realizado pelo IBGE em 2010, é de 896,9 mil indígenas. De acordo com a pesquisa, foram identificadas 305 etnias, das quais a maior é a Tikúna, com 6,8% da população indígena.
Também foram reconhecidas 274 línguas. Dos indígenas com 5 anos ou mais de idade, 37,4% falavam uma língua indígena e 76,9% falavam português.
Os Povos Indígenas estão presentes nas cinco regiões do Brasil, sendo que a região Norte é aquela que concentra o maior número de indivíduos, 342,8 mil, e o menor no Sul, 78,8 mil. Do total de indígenas no País, 502.783 vivem na zona rural e 315.180 habitam as zonas urbanas brasileiras.
Segundo o censo, 36,2% dos indígenas vivem em área urbana e 63,8% na área rural. O total inclui os 817,9 mil indígenas declarados no quesito cor ou raça do Censo 2010 (e que servem de base de comparações com os Censos de 1991 e 2000) e também as 78,9 mil pessoas que residiam em terras indígenas e se declararam de outra cor ou raça (principalmente pardos, 67,5%), mas se consideravam “indígenas” de acordo com aspectos como tradições, costumes, cultura e antepassados.
Os números também revelaram um equilíbrio entre os sexos para o total de indígenas: 100,5 homens para cada 100 mulheres, com mais mulheres nas áreas urbanas e mais homens nas rurais. Entretanto, existe um declínio no predomínio masculino nas áreas rurais entre 1991 e 2010, especialmente no Sudeste (de 117,5 para 106,9) Norte (de 113,2 para 108,1) e Centro-Oeste (de 107,4 para 103,4).
A etnia Tikúna tinha o maior número de indígenas (46,1 mil), resultado influenciado por 85,5% deles que residiam em terras indígenas. Os indígenas da etnia Terena estavam em maior número fora das terras (9,6 mil).
Nas terras indígenas, as etnias Yanomámi, Xavante, Sateré-Mawé, Kayapó, Wapixana, Xacriabá e Mundurukú não estavam presentes nas 15 mais enumeradas fora das terras. Já fora das terras, as não coincidentes eram Baré, Múra, Guarani, Pataxó, Kokama, Tupinambá e Atikum.
O censo também mostra que foram demarcadas 505 terras indígenas, cujo processo de identificação teve a parceria da Fundação Nacional do Índio (Funai) no aperfeiçoamento da cartografia. Essas terras representam 12,5% do território brasileiro (106,7 milhões de hectares), onde residiam 517,4 mil indígenas (57,7% do total).
Apenas seis terras tinham mais de 10 mil indígenas, 107 tinham entre mais de mil e 10 mil, 291 tinham entre mais de cem e mil, e em 83 residiam até cem indígenas. A terra com maior população indígena é Yanomami, no Amazonas e em Roraima, com 25,7 mil indígenas, indígenas, 5% do total.
No período da tarde, foram discutidos e aprofundados os temas da manhã, na perspectiva de propor alternativas e saídas no campo da educação e também, propor ações e estratégias de enfrentamento frente á aplicação e desenvolvimento do Plano Nacional de Educação, com ênfase nas relações de gênero, relações raciais e educação dos povos indígenas, os grupos foram divididos priorizando as diversidades das representações regionais.
O Grupo 1 ocupou-se dos seguintes temas:
Discutir o Plano Nacional de Educação, na perspectiva das relações raciais e de gênero, no currículo e nas práticas pedagógicas. Buscar compreender os impactos nos ambientes da sala de aula e nas Redes Educacionais.
Quais os meios/instrumentos para a implementação das Diretrizes Curriculares de Gênero, Raça e Educação Indígena nas salas de aula e nas Redes de Ensino?
O tema foi agrupado com a seguinte formulação: O Plano Nacional de Educação na perspectiva das relações raciais e de gênero no currículo e nas praticas pedagógicas. Discutir a educação indígena e os desafios nas Redes de ensino.
Segue abaixo a descrição do grupo apresentado na plenária.
GRUPO DE TRABALHO I
IMPACTOS A SEREM SUPERADOS:
- O AUMENTO DAS VIOLÊNCIAS DE GÊNERO
- A LINGUAGEM SEXISTA, MACHISTA, HOMOFÓBICA E  RACISTA
- OS TRABALHADORES TERCEIRIZADOS
- A AUSÊNCIA DE CONTEÚDOS NA FOMAÇÃO ACADÊMICA
- A CRENÇA NA SUPERIORIDADE BRANCA
- SUPERAR A PERSISTENCIA DA  MANUTENÇÃO DO MITO DA IDEOLOGIA RACIAL

PROPOSTA    ESTRATÉGIAS
Precisa disputar a educação que está posta na escola - Realizar atividades: encontros, seminários, oficinas e similares, para ampliar a participação dos professores das redes.   - Fazer formação continuada para os professores (patrocinado pelo sinte) - Chamar os professores para pensar a escola.- Vincular aos movimentos sociais.- Participação de estudantes do ensino médio nos encontros estaduais conversando sobre  as ações afirmativas.
- Assegurar a participação dos ATCS
Precisa tirar nos congressos, secretarias. Secretarias: Mulheres negras, LGBT e étnico-racial. - Mobilizar lideranças e delegados participantes dos Congressos do SINTE/SC
- Ampliar as parcerias com as Universidades;
- Assegurar o principio da formação continuada junto as redes de ensino;
- Socializar as informações de pesquisas e projetos no Site do SINTE;
- A universidade ir nas escolas;
- Projetos para o ano inteiro (integrado as outras áreas);
- Socializar os projetos que existem no país e nas regionais;
- Colocar no site do Sinte estes projetos;
- Contribuir para desconstruir os referenciais eurocêntricos preconceituosos e racistas nas escolas;
- Indicar autores negros e negras, mulheres e indígenas, nas práticas pedagógicas;
-utilizar AUTORES NEGROS, como referência na pratica pedagógica;
- Realizar atividades locais/regionais que envolvam a comunidade, fortalecendo o conceito de Escola Aberta e Participativa;
- Trazer a comunidade para a escola;
- Pesquisas feitas na própria comunidade;
- Dividir o encontro regional em dois dias;
- Fazer o encontro no início do ano letivo;   
- Regionalizar a formação de professores/as no início do ano letivo. 

 Propostas do Grupo 2
                                    Propostas e Estratégias
- Realizar pesquisa sobre o perfil dos profissionais da rede de professores do Estado, agregar dados das diversas fontes secundárias, priorizando o PNE e diversidade na educação;
- Realizar estudos e pesquisas sobre as características étnico-racial por região, com o objetivo de conhecer melhor as relações de gênero, raça e povos indígenas;
- Realizar encontros formativos, nas seis macrorregionais, para aprofundar as discussões, os processos formativos sobre as questões de gênero, raça e povos indígenas;
- Organizar e realizar curso de formação para executiva, diretores e diretores regionais do SINTE, com ênfase nas questões de raça, gênero e povos indígenas;
- Socializar, por intermédio da rede do SINTE, as práticas pedagógicas realizadas pelos professores nas escolas, evidenciando as boas práticas nos temas de gênero, raça e povos indígenas;
- Promover debates sobre as políticas de cotas com professores, a partir de uma cartilha elaborada com essa finalidade;
- Ampliar as discussões de gênero, relações raciais e povos indígenas, na pasta de políticas sociais do SINTE;
- Apoiar as iniciativas de resistência cultural dos povos indígenas e suas políticas, por intermédio de divulgação, visitas coletivas com os alunos e professores das comunidades, de forma emergencial, na comunidade Morro dos Cavalos e Caingangues.
Todas as propostas foram apresentadas e aprovadas, na Plenária Final, com apresentação feita pelos grupos, com debate, às vezes, acrescidas em alguns tópicos, como forma de buscar consenso sobre os conteúdos.
Foi aprovado, na Plenária Final, o Documento em apoio às atividades alusivas ao mês da Consciência Negra, apresentado pelo diretor do SINTE, Luiz Carlos (Carlinhos).
Avaliação Final:
A metodologia utilizada foi a de avaliação aberta, apresentada por seis participantes, quatro mulheres e dois homens. Quanto à organização e ao local, as avaliações foram extremamente positivas, foi considerado os espaços mais adequados para a formação, com salas amplas e de fácil circulação; Quanto aos conteúdos apresentados foram avaliados como excelentes, com a observação sobre a educação dos povos indígenas que se faz necessário maior aprofundamento e dedicação, razão pela quai encaminhou-se propostas nesta direção. Foi muito criticada a ausência de algumas regiões, em especial, a baixa presença da região de Florianópolis, pouco justificável, considerando o deslocamento de regiões distantes, como São Miguel do Oeste, Chapecó, etc.
Observou-se, também, a necessidade de maior inteiração entre os debates e conteúdos que os Encontros apresentam com as regiões, expresso como propostas nos dois grupos, quanto à necessidade de realizar os Encontros Regionais Étnico-raciais. A Coordenação realizadora do Encontro avaliou como positivo o Encontro. Esperava maior participação, sobretudo, pela demanda que há no chão da escola, sobre os temas abordados e encaminhados, as disputas sobre os temas de gênero, raça e educação indígena são públicos e perpassam as instituições representativas, como Congresso Nacional, Câmara de Vereadores e Assembleia Legislativa, estão nas ruas e praças, são políticas que atingem as maiorias da sociedade, composta amplamente por mulheres e negros, os povos indígenas e suas nações formam um dos mais importantes patrimônios da nossa memória coletiva, por isso, sujeitos de direitos à educação indígena específica, como reivindicam.
O Encontro encerrou com uma bela apresentação da Proessora Gisele Marques, com poemas e com força das expressões estético-corporais. Ela dialogou com os participantes sobre a presença da mulher negra, branca, submetida às relações de poder. “Mulata exportação”, título de seu ensaio, tem força universal, quando trata do machismo, da opressão, dos direitos suprimidos.
A confraternização final consolidou um dia de sexta feira 13! Com sucesso e mais trocas de conhecimentos, entre participantes, equipe, direção do Sindicato, palestrantes e convidados.

Núcleo de Estudos Negros- NEN
Universidade Federal de Santa Catarina- UFSC
Equipe de redação do Relatório Final
 
 
 
 
 

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